Homenageando os 285 anos de Florianópolis, vou publicar hoje uma série de “notas” (eu chamo crônicas ligeiras) do grande colunista florianopolitano, Beto Stodieck.
Espero que gostem e deixem seus comentários.
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Nostalgia.
Por: Beto Stodieck (Publicado no O Estado, 27/10/1971)
Sentado diante da máquina, com a natureza – o verde da vegetação e as diversas nuances do azul, do céu ao mar – nos meus olhos (sim, porque agora com o verão, resolvi fazer a coluna no meio do meu jardim), dou de cara com a nostalgia do tempo.
As horas levando sem sentir. Deus meu, como corre o tempo. Ainda ontem tinha 10, 15 anos. Ainda ontem vi Florianópolis mergulhada na tranqüilidade dos anos 50.
Eu comecei cedo, muito cedo, e sempre participando de tudo.
E a medida que os anos passam a humanidade – incluindo o florianopolitano – fica sem condição de viver sua época, buscando no passado, distante ou próximo a justificativa da existência. O que não deixa de ser uma fuga da neurose e da agitação dos dias atuais. Daí êsse gosto, super difundido, pelo antigo – quer nos móveis ou nas vestimentas (o homem nada cria, apenas retorna).
Pois bem, sentado aqui junto a natureza, com os pássaros e as orquídeas em volta (o motivo de tanta inspiração) retorno há duas décadas.
Florianópolis 1950.
* A cidade era calma, angustiante até: em cada janela uma mulher debruçada – com os seios já com o formato do para-peito –, em cada esquina grupos de homens, discutindo isso ou aquilo ou absolutamente nada. E nada acontecia. Ou melhor, coisas aconteciam, mas muito raramente, o que era assunto até um próximo escândalo (só os escândalos – com os outros, naturalmente – despertavam o povo). Na falta de fofoca, inventavam. E não – o que fazem ai – agora?
(continua amanhã)
3 comentários em “Flops na crônica ligeira de Beto Stodieck.”