(Artigo publicado no jornal Notícias do Dia, 09 e 10 de julho de 2011. p.06 – original aqui)
Nessa semana a sociedade catarinense foi surpreendida pela continuidade da greve na educação. Após uma série de negociações e a garantia por parte do governo do Estado do cumprimento da lei do piso, esperava-se que os professores também se preocupassem com os alunos e retomassem as atividades. As mudanças na tabela de progressão salarial e na gratificação por regência de classe foram os motivos alegados para que a assembléia do Sinte (Sindicato dos Trabalhadores em Educação) frustrasse a expectativa geral. Como pano de fundo das reivindicações, sindicato e professores em greve alegam a preocupação com a qualidade da educação pública em nosso Estado. Mas a ausência da idéia de meritocracia nesse debate nos faz duvidar dessas boas intenções.
Recentemente uma série de reportagens exibida em rede de TV aberta comprovou presencialmente o que as pesquisas já indicavam: melhores salários não garantem a qualidade do aprendizado dos alunos. Mostrou-se que no mesmo município a remuneração dos professores na escola com o pior índice no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) não era muito diferente da remuneração na escola com melhor índice. O investimento em ferramentas educacionais (cada vez mais tecnológicas), nas famílias dos alunos e o reconhecimento do mérito dos bons professores provocam melhorias na qualidade da educação que não aparecem com o simples aumento de salário.
A verdadeira distorção salarial na educação é ver professores dedicados, preparados e freqüentes receberem o mesmo que os displicentes e faltosos, desde que tenham os mesmos diplomas e tempo de serviço. A progressão salarial acontece por tempo de serviço e pela formação continuada – e nem um nem outro são garantia de qualidade de aprendizado dos alunos. Um professor recém formado pode dar uma aula melhor que outro com 25 anos de carreira. E a formação continuada, sendo quase obrigatória para a melhoria da remuneração, muitas vezes vira um acúmulo de horas de cursos que raramente mudam a dinâmica em sala de aula.
Santa Catarina deveria transformar esse momento de crise na educação numa oportunidade de implantar a progressão por mérito. Fosse a qualidade de ensino e aprendizado o verdadeiro objetivo do sindicato, certamente o tema não passaria em branco. E os bons professores agradeceriam. A continuidade da greve provou que os objetivos são outros. Nesse cenário, falar em meritocracia certamente viraria motivo para outra paralisação.
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